sábado, 1 de fevereiro de 2014


Leve seu filho à escola bíblica dominical!

Quando criança, eu fui. Rigorosamente todos os domingos estava lá.

E quando pré-adolescente eu também fui. Rigorosamente todos os domingos estava lá.

Lembro da Igreja: Nova Vida, cristã protestante. Para sorte deles, não lembro do que diziam quando eu era criança. Para azar deles, eu lembro muito bem do que diziam quando eu era pré-adolescente.

E o que eu aprendi na escola bíblica dominical da Igreja Nova Vida?

Aprendi que fui criado do barro e ganhei livre arbítrio, mas que devia viver com medo de coisas que não existem (inferno, satanás e derivações do tipo) caso eu não cumprisse a vontade de um deus que igualmente não existe e que me ama tanto ao ponto de me dar livre arbítrio e também de me impedir de usá-lo. Então pra que me deu?

Aprendi a aceitar que a família tradicional, "base da sociedade", é o ideal de sociedade perfeita: homem que trabalha e provê a casa, mulher submissa ao homem que serve para gerar filhos e cuidar das atividades domésticas, e crianças que obedecem aos adultos e aprendem a ser homens para dominar as mulheres ou mulheres para ser dominadas pelos homens quando no atingimento da idade adulta.

Aprendi que esse ciclo de impositividade machista-patriarcal-misógina, repetido por gerações, é a vontade de deus.

Aprendi que quem ouse questionar a família tradicional e ser sodomita ou efeminado (1 Coríntios 6;9) "não herdará o reino de deus" e que a tradução disso significa queimar pela eternidade no inferno.

Curioso como deus criou esse Universo gigantesco, complexo, com quadrilhões de planetas, trilhões de estrelas, bilhões de galáxias e com tanta coisa pra se preocupar decidiu a sua inteligência inquestionável que o ponto central de sua lógica é evitar a homossexualidade entre os Homo sapiens do planeta Terra. Mas deixa pra lá, vamos seguir...

Aprendi que a mulher que engravida, mesmo sendo vítima de violência sexual, incapaz de sustentar a gestação ou portadora de um feto que virá a óbito minutos depois do nascimento não deve ter nenhum direito de escolha acerca da interrupção da gravidez. E isso porque deus defende a vida. Embora não entenda que se ele defende a vida, porque nos fez mortais?

E ele só defende a vida dos Homo sapiens. Matar um ser humano é visto como homicídio, matar um feto ainda não nascido é equiparado ao homicídio, mas matar um chimpanzé (que partilha de 99,6% de nossos genes ativos) não é homicídio.

Aprendi que só deus pode criar a vida. Por isso, se deus fez um ser humano portador de necessidades especiais, assim ele deve ser pois deus tem um plano pra ele. Então pesquisas com células-tronco que nos façam brincar de copiar deus para curar essas pessoas são eticamente questionáveis e devem ser combatidas e proibidas.

Não precisamos desenvolver a medicina, pois deus cura todas as doenças - para deus é possível fazer cego enxergar, deficiente físico andar, morto ressuscitar, orelha decepada ser colocada no lugar etc. Mas temos muitos cegos, deficientes físicos, mutilados e mortos prematuramente sem a "cura divina" de deus. Mesmo que alguns peçam tanto por esse milagre (menos os mortos!). Porque? A resposta eu também aprendi: todos sem fé! Deus é infalível e se tivessem fé seriam curados.

Só precisamos de fé para curar até a mais perversa forma de câncer. Só quem não tem fé vai aos hospitais...

Aprendi que desse mundo nada tem valor e que para herdar o reino de deus eu deveria dar tudo aos pobres e seguir os ensinamentos de deus. Mas aprendi que "deus tem vida em abundância" pra mim e que a acumulação de riquezas materiais é possível. Por isso que é justo que alguns possam ganhar de presente de deus um canal de televisão, uma fazenda, uma mansão, um carro luxuoso etc.

E se eu tiver fé e disser "amém" tantas vezes quanto estes abençoados, eu também posso ter uma vida dessas e esquecer daquela bobagem de que é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha que um rico entrar no reino dos céus...

Enfim, eu aprendi na escola bíblica dominical a ser intelectualmente ignorante, misógino, machista, homofóbico, intolerante, preconceituoso e a combater os avanços científicos que possam questionar meus dogmas... tudo isso em nome da fé.

Só o conhecimento, que adquiri por livre e espontânea busca, ainda que sempre combatido por minha própria família, foi capaz de me libertar do que aprendi na escola bíblica dominical. E hoje eu consigo olhar pra trás e pensar: porque fizeram isso comigo? Será que minha família queria que eu fosse um fascista e que o plano de deus pra todas as pessoas é esse?

Partilhem do abuso, da intolerância moral e promovam uma lavagem cerebral com seus filhos: imponham na base da força e da ameaça as suas religiões a eles. Mesmo que crianças sejam novas demais para entender a complexidade das religiões (inclusive compreender que existem várias possibilidades de escolha, não somente uma, e que elas podem escolher entre alguma ou nenhuma delas!), azar o delas (na verdade, melhor ainda: onde há o desconhecimento, a possibilidade de manipulação é maior). Promovam uma lobotomia em seus filhos, tirem o direito de escolha deles, façam deles idiotas, impeçam qualquer possibilidade de que eles sejam emancipados pelo conhecimento e usufruidores de ideias verdadeiramente autênticas. Só assim eles poderão ter suas almas salvas...

E façam isso sem remorsos! Deus deu o direito de livre arbítrio aos pais para que eles pudessem usá-lo em tolhimento do direito de livre arbítrio dos filhos, amém!

Leve seu filho à escola bíblica dominical!


POR MÁRIO JÚNIOR

fonte: www.facebook.com/mariorufinofjr/posts/593214154098183

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